terça-feira, 28 de maio de 2013

Há, ou não, orações subordinantes?

No passado dia 24, uma professora do Porto, Daniela Figueira, fez ao Ciberdúvidas a seguinte pergunta:
«a oração subordinante não existe? ». E o Ciberdúvidas responde:  «A oração subordinante existe».

Ora, todos aqueles que seguem este meu  blogue sabem que eu sempre disse, e continuo a dizer, o contrário: a oração subordinante não existe. Existem conjunções subordinantes e coordenantes – que as nossas velhas gramáticas sempre chamaram, e bem, conjunções coordenativas e subordinativas. A sintaxe atual mantém a mesma designação e função para as conjunções - mas não reconhece tal designação nem função para quaisquer orações. A frase que a professora Daniela Figueira submetia a apreciação é a seguinte:
«Eu como fruta e bebo água porque me faz bem à saúde»
Estamos perante uma frase complexa: uma frase formada por orações de diversa natureza. Uma oração  principal (eu como fruta) uma coordenada copulativa à principal (e bebo água) e uma oração subordinada causal, introduzida pela conjunção subordinante (porque me faz bem à saúde).
A oração causal não apresenta qualquer dependência em relação quer à principal quer à coordenada. Tanto assim é que, eliminada, a frase manteria a sua gramaticalidade, - ou, em alternativa, poderia ser substituída por quaisquer outras orações, condicionadas, apenas, pela coerência semântica da conjunção que as introduzisse.
1.     A gramaticalidade da frase manter-se-ia se, em vez da oração causal, a subordinada fosse condicional (se tiver fome), temporal (logo que sinto fome), relativa adverbial (quando tiver fome) concessiva (embora tenha pouca fome), etc.  A oração principal não impõe qualquer vínculo sintático à subordinada. As orações nunca são coordenantes nem subordinantes.
2.     Podemos sempre inverter a posição duma oração subordinada, que a frase mantém o seu sentido, assim:  Porque me faz bem à saúde, eu como fruta e bebo água; se tiver fome, eu como fruta e bebo água; como qualquer outro ser vivo, eu como fruta e bebo água, etc…
3.     A oração subordinada é, apenas,  um adjunto sob forma oracional – e os adjuntos são livres de estar, de sair, e, até, de mudar de posição – porque nunca são selecionados por qualquer constituinte da frase.
E repetimos: não há orações subordinantes – nem nos casos em que  selecionam uma oração como seu complemento – que é o caso de:
Eu digo que isto é verdade.
Frase ou oração composta (aquela em que um nome assume uma forma oracional)
Suj.: eu; pred.: digo que isto é verdade; compl.direto: que isto é verdade.

- que isto é verdade: oração subordinada substantiva, completiva ou integrante.
Suj.: isto; predicado: é verdade.


Notemos que eu digo não é uma oração, mas, apenas, parte duma oração. Logo, não é possível – e estaria errado – classificar como oração subordinante uma oração que não existe, pois eu digo é, apenas, parte duma oração. E recordo o que tenho vindo a dizer: em sintaxe não há fases vazias.