Há, ou não, orações subordinantes?
No passado dia 24, uma professora do Porto, Daniela Figueira, fez ao
Ciberdúvidas a seguinte pergunta:
«a oração subordinante não existe? ». E o Ciberdúvidas responde: «A oração subordinante existe».
Ora, todos aqueles que
seguem este meu blogue sabem que eu
sempre disse, e continuo a dizer, o contrário: a oração subordinante não existe. Existem conjunções subordinantes e coordenantes – que as nossas
velhas gramáticas sempre chamaram, e bem, conjunções coordenativas e subordinativas.
A sintaxe atual mantém a mesma designação e função para as conjunções - mas não
reconhece tal designação nem função para quaisquer orações. A frase que a
professora Daniela Figueira submetia a apreciação é a seguinte:
«Eu
como fruta e bebo água porque me faz bem à saúde»
Estamos perante uma frase
complexa: uma frase formada por orações de diversa natureza. Uma
oração principal (eu como fruta) uma coordenada copulativa à principal (e bebo água) e uma oração subordinada
causal, introduzida pela conjunção subordinante (porque me faz bem à saúde).
A oração causal não
apresenta qualquer dependência em relação quer à principal quer à coordenada.
Tanto assim é que, eliminada, a frase manteria a sua gramaticalidade, - ou, em
alternativa, poderia ser substituída por quaisquer outras orações,
condicionadas, apenas, pela coerência semântica da conjunção que as
introduzisse.
1. A
gramaticalidade da frase manter-se-ia se, em vez da oração causal, a
subordinada fosse condicional (se tiver
fome), temporal (logo que sinto
fome), relativa adverbial (quando
tiver fome) concessiva (embora tenha
pouca fome), etc. A oração principal não
impõe qualquer vínculo sintático à subordinada. As orações nunca são
coordenantes nem subordinantes.
2. Podemos
sempre inverter a posição duma oração subordinada, que a frase mantém o seu
sentido, assim: Porque me faz bem à saúde, eu como fruta e bebo água; se tiver fome, eu como fruta e bebo água;
como qualquer outro ser vivo, eu como
fruta e bebo água, etc…
3. A
oração subordinada é, apenas, um adjunto
sob forma oracional – e os adjuntos são livres de estar, de sair, e, até, de
mudar de posição – porque nunca são selecionados por qualquer constituinte da
frase.
E repetimos: não há orações
subordinantes – nem nos casos em
que selecionam uma oração como seu
complemento – que é o caso de:
Eu digo que isto é verdade.
Frase
ou oração composta
(aquela em que um nome assume uma forma
oracional)
Suj.: eu; pred.: digo que isto é verdade;
compl.direto: que isto é verdade.
- que
isto é verdade: oração subordinada substantiva, completiva ou integrante.
Suj.: isto; predicado: é verdade.
Notemos que eu digo não é uma oração, mas, apenas, parte duma oração. Logo, não
é possível – e estaria errado – classificar como oração subordinante uma oração
que não existe, pois eu digo é,
apenas, parte duma oração. E recordo o que tenho vindo a dizer: em
sintaxe não há fases vazias.