terça-feira, 29 de outubro de 2013

Gramática do Português

Foi  ontem apresentada na Gulbenkian a Gramática do Português.
Segundo o prof. Paiva Raposo, que foi um dos coordenadores dos  mais de quarenta  intervenientes na sua elaboração, não se trata duma gramática normativa, mas descritiva, da língua portuguesa.  No entanto, na sua resposta à pergunta  duma professora de português presente na sala se esta gramática viria pôr cobro à bagunça atual do ensino do português ele respondeu que não era a sua finalidade, mas que a acreditava possível.

Uma gramática descritiva da língua – e tenho presente o exemplo de duas recentes (Grammaire descriptive de la langue française, Roland ELUERD, Armand Colin,2002) e Gramática Descrptiva De La Lengua Española, RAE, 1999), - uma gramática descritiva da língua nunca pode evitar uma tomada de posição sobre questões que depois venham a ser tratadas por qualquer gramática normativa. Foi o que aconteceu com a “Nueva Gramática de la lengua Española” de Dezembro de 2009, que retoma toda a orientação da gramática descriptiva que a precedeu.

E será isto, seguramente, o que acontecerá entre nós. A situação atual é insustentável – e eu já a venho denunciando desde 2008.

Resta-me dizer que estive presente, via internet, na sala da Gulbenkian – e que estou ansioso pela chegada da Gramática do Português, de que  aqui falarei longamente.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A uma Colega de Matemática eu teria respondido …

Uma professora de Matemática de Caldas da Rainha  interroga hoje o Ciberdúvidas sobre questões de sintaxe.

Eu teria respondido:
1.     Não há orações substantivas relativas; seriam qualquer coisa e o seu contrário.

2.     Não há orações relativas sem antecedente. Pode este estar incorporado numa forma pronominal, mas o antecedente é condição determinante da existência de orações relativas. Que quererá dizer relativo? – que um pronome se relaciona com algo que o antecede. Se não houver antecedente, não há oração relativa! Como se pode falar em relativas sem antecedente?

3.     Não há orações substantivas com função de predicativo do sujeito.

Na frase: «O mais certo é chover amanhã», chover amanhã é sujeito; o predicado é é o mais certo. Nada mais.
Verbos copulativos ou atributivos são verbos de ligação (ou de cópula): ligam o sujeito ao predicado (que resulta do verbo copulativo mais o atributo).
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4.     A noção de predicativo divulgada pelo Dicionário Terminológico e imposta pelo Ministério da Educação  – e que está na base das dúvidas da nossa Colega de Matemática -  não tem qualquer fundamento, e nunca deveria ter sido aceite, porque, à data da sua publicação, já era um anacronismo.

5.     Finalmente, a descrição sintática da frase que a Colega de Matemática propõe:

Entreguei a encomenda a quem indicaste
            Frase composta ou oração composta
Suj. (oculto) eu; pred.: entreguei a encomenda a quem indicaste; c. dir.: a encomenda; compl.ind.: a quem indicaste.

O pronome indefinido quem tem sempre incorporado um antecedente (aquele,a, es, as) do relativo que (que inicia sempre outra oração).Assim:

Entreguei a encomenda àquele (que indicaste)
Análise da subordinada relativa adjetiva (que indicaste)
Suj. oculto: tu; pred.: indicaste; c.dir.: que


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Finalmente, a Esperança!

Acabo de ler, na abertura do  Ciberdúvidas de ontem, que vai ser apresentada na Gulbenkian, no próximo dia 28, uma nova gramática do português. Até que enfim!
Surge a esperança de se acabar com a inaceitável  e incompreensível situação  atual.

Não imagino quem sejam  os seus Autores. Mas a qualidade da Gulbenkian, de quem fui bolseiro há mais de 50 anos, permite-me ter fundadas esperanças de que teremos, finalmente,  uma gramática do português sensata,  atual, credível.