Modificador e Adjunto
O que se passou ontem no
Ciberdúvidas é totalmente incompreensível. Um consulente perguntou se os
advérbios então e já podem ser considerados adjetivos em frases do tipo: O
então ministro; o já dono da casa…
Resposta do Ciberdúvidas:
O uso de advérbios
como modificadores de substantivos é
correto.
De seguida, o mesmo Ciberdúvidas confirma, citando a
Gramática do português (Gulbenkian):
«[A]lguns advérbios, entre os quais um
pequeno número com valor semântico
temporal ou locativo, podem ocorrer no interior de sintagmas nominais cujo
núcleo é um nome eventivo ou denotador de um cargo, função ou profissão,
funcionando como adjuntos adverbiais…»
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O Ciberdúvidas
não terá notado que «não bate a bota com a perdigota».
O Consulente
pergunta se aqueles advérbios são adjetivos; o Ciberdúvidas responde
que são modificadores, - e demonstra-o,
citando a Gramática do Português que os classifica como adjuntos! Se não é conversa de moucos, bem parece!
Será
que no SN «o então ministro» o advérbio modificará
o nome ministro? Não! Fará dele um ministro menor, maior ou mais eficiente? Não!
Se o
advérbio não modifica o nome, a que propósito chamar-lhe modificador?
O
sintagma «o então ministro» refere-se a um ministro que o era numa determinada altura, ou seja, num determinado tempo. Esta informação temporal do cargo de ministro é opcional, quer dizer que, retirada, o sintagma manteria a
gramaticalidade.
Os constituintes adverbiais, ou de valor equivalente, que desempenhem na frase funções opcionais
tomam, em sintaxe, o nome de adjuntos
– enquanto que os constituintes de presença gramaticalmente imposta são complementos.
As gramáticas modernas insistem na conveniência – pedagogicamente indispensável
- da caracterização semântica.
Logo,
à pergunta se os advérbios já e então, naqueles sintagmas, podem ser considerados adjetivos,
a única resposta aceitável seria: não.
São advérbios que desempenham a função sintática de adjuntos adverbiais ou circunstanciais de tempo.