sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Gramática do Português FCG

Como é público, desde 2008 que eu argumento contra a ideia generalizada, e errada,  de que os verbos copulativos  selecionam predicativo do sujeito.  Apresento testemunhas:  o Moodle (moodle.dgidc.min-edu.pt) e, depois dele, o Ciberdúvidas.
Cabe-me honestamente reconhecer que as minhas palavras e demonstrações não tiveram qualquer efeito, e este erro continuou a ser divulgado. Ainda hoje mesmo o Ciberdúvidas o repete, em resposta a um professor.

Mais ou menos em 2012, cheguei ao conhecimento de que a Gulbenkian preparava a publicação duma Gramática do Português. E fiquei cheio de certezas: iria, decerto, surgir em Portugal uma autoridade em questões sintáticas. Depois dos desaires da TLEBS e do seu sucedâneo D.T., iríamos dispor, finalmente, duma obra fiável, - e imaginava-a já uma outra Nueva Gramatica de la Lengua Española, da RAE.

Chegada a Gramática, fui logo, ansioso como as crianças com novo brinquedo, a folhear, a folhear, tentando encontrar apoio para as minhas angústias sintáticas.

A questão do predicado das orações copulativas  foi a que primeiro procurei. E lá está. Na página 1286 é explícita a afirmação de que na frase a Maria estava triste, o adjetivo triste é predicado. Também nas p. 1290 /1, na análise das frases  A Clara está gorda, Esse bicho é um tigre, O rapaz ficou com má cara  esta Gramática  afirma que a parte sublinhada  constitui o predicado  - e  isto só pode querer dizer que a sua análise deve ser:
Suj.: A Clara; pred.: está gorda  
Suj.: o rapaz; pred.: ficou com má cara
Suj.: Esse bicho; Pred.: é um tigre.

É fiquei feliz! Ninguém acreditara nas minhas propostas – mas elas, finalmente, aí estavam, vencedoras, reconhecidas! Eu tinha razão!

Mas … logo a desilusão chegou. Continuando a folhear, deparei,  na página 1085,  com a afirmação  de que  «os adjetivos ocorrem como predicativo do sujeito em frases copulativas» como a Maria é inteligente.  Não pode ser! Como pode esta Gramática do Português dizer uma coisa e o seu contrário?

E encontrei, depois, complementos oblíquos, orações subordinantes, e até uma análise de oração composta que me deixa sérias dúvidas.  
Continuarei a estudar, e não me coibirei de levantar dúvidas – e até de propor alterações. A Língua Portuguesa merece-o.

Reconheço o inigualável mérito da equipa desta Gramática – mas aliquando dormitat Homerus. E não é só o meu Homero que, por vezes, faz uma sesta!