VERBOS ATRIBUTIVOS
Ontem, como frequentemente, puxei dum livro, já lido
e trelido, A Casa Grande de
Romarigães, de Aquilino, e, por mero acaso, caí na p. 263. Fixei-me na frase:
Ruiva, com o nariz arrebitado, magra e flexuosa, chamavam-lhe a Cabra esfolada.
[-lhe: pronome pessoal; o seu referente é
Felisberta; chamavam-(n)a ou -lhe "a Cabra esfolada".
Não a chamavam para ela vir ao seu encontro: o verbo não é PLENO; atribuíam à Felisberta um epíteto, uma alcunha: o verbo chamar, nesta acepção, é ATRIBUTIVO.
Os atributos, já o sabemos, fazem parte do predicado. As pessoas não chamavam a Felisberta: chamavam-lhe "a Cabra esfolada"
Os verbos achar, chamar, considerar, e também nomear,
eleger (quando seguidos de atributo ou nome de profissão ou cargo, como: nomear reitor, fazer deputado, eleger
presidente ou miss Portugal) …são atributivos. (Ver, na Gramática, as pág.
9 - 25).
- o adjetivo flexuosa não é muito frequente, mas facilmente nos apercebemos da sua relação com a raiz flec - de flectir, flexão - donde o significado de gingona, bamboleante.
ANALISEMOS a frase: Ruiva, com o nariz arrebitado, magra e flexuosa, chamavam-lhe a Cabra
esfolada.
Oração simples
Suj.: indeterminado (eles, elas, as pessoas); predicado: chamavam-lhe a Cabra esfolada; compl. direto: -lhe; predicativos do compl. direto: ruiva, com o nariz arrebitado, magra e flexuosa.
- o pronome pessoal -lhe (Felisberta) é compl. direto.
O verbo chamar, quando não é pleno, é atributivo. Por isso, o predicado é chamavam "a cabra esfolada". A pessoa apelidada é complemento direto. E temos prova disso bem evidente por informação da própria Língua, que forma a voz passiva assim: por eles, ela (Felisberta), ruiva, com o nariz arrebitado, magra e flexuosa, era chamada a Cabra esfolada.
Suj.: ela, ruiva, com o nariz arrebitado, magra e flexuoso.; predicado: era chamada a cabra esfolada; compl. de agente da passiva: por eles; predicativos do sujeito: ruiva, com o nariz arrebitado, magra e flexuoso.
o -lhe que, na voz ativa, foi complemento direto, na voz
passiva é sujeito.
Os Linguistas podem não os ter visto, mas a Língua e o Latim sempre os tiveram bem presentes.
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