segunda-feira, 2 de setembro de 2024

 

SINTAXE

Urgência na sua atualização

Causará espanto que um professor de Língua portuguesa venha para o Facebook fazer análise sintática - como cá estão outros, profissionais ou não, a fazer poesia, a falar de música ou velhos amigos a celebrar encontros, a noticiar sucessos e não só...

É minha opinião que a Língua portuguesa não só tem lugar nesta REDE SOCIAL, mas até que ficará aqui muito bem. Não há nada tão social como a Língua que é propriedade de todos - mas não podemos tolerar que nela intervenha a irresponsabilidade de alguns.  A sociedade definiu autoridades da Língua que serão, suponho, o Ministério da Educação e a Academia das Ciências. Só estes dois órgãos têm poder para determinar e fiscalizar o seu modo de funcionamento que terá nos professores, devidamete licenciados, a responsabilidade de a ensinar. Se estes erram - e a situação atual é profundamente desastrosa - aqueles dois Organismos deveriam intervir.

Há poucos dias entrei numa livraria e peguei numa gramática do 9.ºano: um luxo de imagens, de cores, de espaços em branco. Fiquei surpreendido com tal abundância de imagens: campos verdes com árvores frondosas, animais em liberdade, ribeiras, pássaros voando, garotos cabeludos junto de cabanas em paisagens paradisíacas...  Fugiam-me os olhos, espantados, de imagem para imagem.

Resisti ao encanto, e fui dar uma olhadela à sintaxe. Que  desgraça!  Frases simples, ingénuas, do tipo: o caçador saiu para a caça, e, logo, a frase seguinte: o caçador saiu para a caça cedo. Com esta 2.ª frase os Autores mostravam o que, em sintaxe, é um modificador. Depois havia modificadores apositivos, apositivos do nome e  restritivos do nome... Só ali, quatro modificadores. Mas há mais: do verbo, da frase, de tudo o que se não souber classificar sintaticamente. Também lá estavam (claro!) as orações oblíquas, os predicativos do sujeito pedidos pelos verbos copulativos - e até o verbo ficar, numa frase em que é verbo transitivo preposicionado, era ali apresentado como copulativo. Em resumo: uma gramática que, exteriormante, é um luxo; interiormente, na sintaxe, é uma vergonha. 

A Língua portuguesa não pode ser assim vilipendiada. Não há quem mande nisto? Um país com gramáticas assim... e algumas delas com revisão científica de universidades.

No passado dia 5 de março contactei a Academia das Ciências por carta, propondo-lhe a análise e discussão das primeiras 25 páginas da minha Gramática, a fim de, posteriormente, ser toda discutida e certificada.  Há seis meses! - ainda não acusaram a recepção!

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ANÁLISE  
O barão não era tão parvo quanto se presume do título (Camilo, Eusébio Macário, 82).
(Presume-se: deduz-se, tem-se a ideia a partir do título de barão)

 Oração composta
 Suj.: o barão; predicado: não era tão parvo quanto se presume do título

- quanto se presume do título
Proposição subordinada adverbial comparativa
Suj.: não tem (construção impessoal); predicado: se presume do título; complemento adverbial de origem: do título.
(Esta afirmação parece fazer-nos crer que, para Camilo, os Barões eram todos parvos. Mas, depois, em 1885,  não rejeitou o título de Visconde, que era apenas um grau superior ao de Barão).





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