SINTAXE
Causará espanto que um professor de Língua
portuguesa venha para o Facebook fazer análise sintática - como cá estão outros,
profissionais ou não, a fazer poesia, a falar de música ou velhos amigos a
celebrar encontros, a noticiar sucessos e não só...
É minha opinião que a Língua portuguesa não só tem lugar nesta REDE SOCIAL, mas até que ficará aqui muito bem. Não há nada tão social como a Língua que é propriedade de todos - mas não podemos tolerar que nela intervenha a irresponsabilidade de alguns. A sociedade definiu autoridades da Língua que serão, suponho, o Ministério da Educação e a Academia das Ciências. Só estes dois órgãos têm poder para determinar e fiscalizar o seu modo de funcionamento que terá nos professores, devidamete licenciados, a responsabilidade de a ensinar. Se estes erram - e a situação atual é profundamente desastrosa - aqueles dois Organismos deveriam intervir.
Há poucos dias entrei numa livraria e peguei numa gramática do 9.ºano: um luxo de imagens, de cores, de espaços em branco. Fiquei surpreendido com tal abundância de imagens: campos verdes com árvores frondosas, animais em liberdade, ribeiras, pássaros voando, garotos cabeludos junto de cabanas em paisagens paradisíacas... Fugiam-me os olhos, espantados, de imagem para imagem.
Resisti ao encanto, e fui dar uma olhadela à sintaxe. Que desgraça! Frases simples, ingénuas, do tipo: o caçador saiu para a caça, e, logo, a frase seguinte: o caçador saiu para a caça cedo. Com esta 2.ª frase os Autores mostravam o que, em sintaxe, é um modificador. Depois havia modificadores apositivos, apositivos do nome e restritivos do nome... Só ali, quatro modificadores. Mas há mais: do verbo, da frase, de tudo o que se não souber classificar sintaticamente. Também lá estavam (claro!) as orações oblíquas, os predicativos do sujeito pedidos pelos verbos copulativos - e até o verbo ficar, numa frase em que é verbo transitivo preposicionado, era ali apresentado como copulativo. Em resumo: uma gramática que, exteriormante, é um luxo; interiormente, na sintaxe, é uma vergonha.
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