sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Os Lusíadas - Anotados e transpostos em português atual

“Ler a Ilíada é reclamarmos o lugar que por herança nos cabe no processo de transmissão da cultura ocidental: cada novo leitor acrescenta mais uma etapa, ele mesmo um novo elo” [Frederico Lourenço, Ilíada (tradução), p. 7].

Gostaria de ter sido eu a proferir estas palavras – e fá-lo-ia, sem hesitação, a respeito da Ilíada. Mas este texto seria igualmente válido se referido a Os Lusíadas.
Os Lusíadas são a obra fundamental da nossa cultura. Foi no Poema que primeiro se fez uma análise sistemática e profunda da maneira de ser português.

Quando, antes de Aljubarrota, alguns nobres hesitavam em pegar em armas contra Castela, Dom Nuno despertou-lhes o orgulho, assim:
Como? Da gente ilustre portuguesa
Há de haver quem refuse o pátrio Marte?
…..
Como?  Não sois vós inda os descendentes
Daqueles que, debaixo da bandeira
Do grande Henriques, feros e valentes,
Vencestes esta gente….?
                                                            (Canto IV, 16 e 17)

Estas palavras mantêm-se válidas hoje, para nós. Os Lusíadas, agora, somos nós.
Aqueles heróis deixaram descendentes…Agora, Os Lusíadas somos nós!

Se os estudarmos, lá nos veremos. E sentiremos, decerto, uma imenso orgulho de sermos descendentes de tal gente.
E, agora, finalmente, é muito fácil ler  Os Lusíadas, disponíveis em Google books, na Kobo, na Wook, na Livraria Cultura (Brasil) e, ainda, na amazon.co.uk e na amazon.es, e outras.

Todas essas livrarias online apresentam  vastos fragmentos da obra. Quem tiver interesse em ver o que são estes Lusíadas, bastar-lhe-á entrar nessas livrarias.  


sexta-feira, 16 de maio de 2014

Assim, não, Ciberdúvidas!

Ó Ciberdúvidas, que distração é essa?
Dizem  hoje a um estudante que a voz passiva da frase:
«Os serviços não responderam a tempo aos pedidos de isenção», é:
«Os pedidos de isenção não foram respondidos a tempo pelos serviços»…

Que disparate é esse, ensinado  a um estudante?
O Ciberdúvidas, pago, em parte, por dinheiro dos portugueses, não pode ser divulgador de disparates tão gordos. Que diabo! - Nem a passiva duma frase sabem formar?

Bem sei que estão a copiar a Gramática do Português (Gulbenkian), pág. 436, lá mesmo ao cimo, linhas 3 e 4.  Mas eu já aqui disse que essa Gramática não é nenhuma Bíblia em que se deva crer cegamente.  Devemos consultá-la, evidentemente, e muito de útil lá há. Mas…tem imparidades, muitas, inesperadas e  inexplicáveis - como esta.

Corrijam lá isso.



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Gramática do Português FCG

Como é público, desde 2008 que eu argumento contra a ideia generalizada, e errada,  de que os verbos copulativos  selecionam predicativo do sujeito.  Apresento testemunhas:  o Moodle (moodle.dgidc.min-edu.pt) e, depois dele, o Ciberdúvidas.
Cabe-me honestamente reconhecer que as minhas palavras e demonstrações não tiveram qualquer efeito, e este erro continuou a ser divulgado. Ainda hoje mesmo o Ciberdúvidas o repete, em resposta a um professor.

Mais ou menos em 2012, cheguei ao conhecimento de que a Gulbenkian preparava a publicação duma Gramática do Português. E fiquei cheio de certezas: iria, decerto, surgir em Portugal uma autoridade em questões sintáticas. Depois dos desaires da TLEBS e do seu sucedâneo D.T., iríamos dispor, finalmente, duma obra fiável, - e imaginava-a já uma outra Nueva Gramatica de la Lengua Española, da RAE.

Chegada a Gramática, fui logo, ansioso como as crianças com novo brinquedo, a folhear, a folhear, tentando encontrar apoio para as minhas angústias sintáticas.

A questão do predicado das orações copulativas  foi a que primeiro procurei. E lá está. Na página 1286 é explícita a afirmação de que na frase a Maria estava triste, o adjetivo triste é predicado. Também nas p. 1290 /1, na análise das frases  A Clara está gorda, Esse bicho é um tigre, O rapaz ficou com má cara  esta Gramática  afirma que a parte sublinhada  constitui o predicado  - e  isto só pode querer dizer que a sua análise deve ser:
Suj.: A Clara; pred.: está gorda  
Suj.: o rapaz; pred.: ficou com má cara
Suj.: Esse bicho; Pred.: é um tigre.

É fiquei feliz! Ninguém acreditara nas minhas propostas – mas elas, finalmente, aí estavam, vencedoras, reconhecidas! Eu tinha razão!

Mas … logo a desilusão chegou. Continuando a folhear, deparei,  na página 1085,  com a afirmação  de que  «os adjetivos ocorrem como predicativo do sujeito em frases copulativas» como a Maria é inteligente.  Não pode ser! Como pode esta Gramática do Português dizer uma coisa e o seu contrário?

E encontrei, depois, complementos oblíquos, orações subordinantes, e até uma análise de oração composta que me deixa sérias dúvidas.  
Continuarei a estudar, e não me coibirei de levantar dúvidas – e até de propor alterações. A Língua Portuguesa merece-o.

Reconheço o inigualável mérito da equipa desta Gramática – mas aliquando dormitat Homerus. E não é só o meu Homero que, por vezes, faz uma sesta!