segunda-feira, 29 de julho de 2024

 

PREDICADOS COMPLEXOS

Vimos no post anterior que é verbo pleno o verbo ACHAR na frase: ACHEI UMA MOEDA NA MINHA RUA , - mas que na frase EU ACHO A MINHA PROFESSORA MUITO SIMPÁTICA, o verbo achar não acha nada, mas manifesta a sua opinião sobre a professora. Neste segundo caso, o verbo achar é atributivo (veicula um atributo, que é o elemento central do predicado, dando origem a um predicado complexo (p. 20).

A sintaxe dos verbos atributivos (semicopulativos) tem sido negligenciada, mesmo ao mais alto nível das gramáticas em Língua portuguesa. Na excelente Gramática da Língua Portuguesa, de Bechara, na sua página 522, faz-se a seguinte análise:  Frase: NÓS LHE CHAMÁVAMOS DOUTOR - e BECHARA atribui a DOUTOR a função de predicativo do complemento indireto - donde deduzimos  que a sua análise total só pode ter sido assim:  Suj.: nós; predicado: chamávamos; compl. indireto: lhe; predicativo compl. indireto: doutor. Mas tal análise é inaceitável.

E que ninguém pense que se trata de opinião minha, porque a própria Língua serve de prova, pelo modo como forma a passiva desta frase, assim:  ele era chamado doutor por nós - e esta  forma passiva da frase não tem discussão possível. Nela vemos que o LHE, que na voz passiva tomou a forma ele (sujeito)  tem de ser  compl.. direto na voz ativa.

A causa do erro de Bechara foi o facto de não ter tido em conta que o verbo chamar é semicopulativo; e, nessa acepção copulativa, o predicado é chamar doutor.  A análise desta frase só pode ser assim: :  Suj.: nós; predicado: lhe chamávamos doutor; compl. direto: -lhe. [Tratamos este tema nas p. 19 a 25 da Gramática).

O mesmo descuido persiste no Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa que, na entrada PREDICATIVO, faz a análise seguinte: na frase «CONSIDERAVA AQUELA GENTE SIMPÁTICA», afirma:  «simpática» exerce função de nome predicativo do complemento direto». Claro que se trata dum erro! Nem aqui há nome, nem predicativo do compl. direto. Tal análise deveria ser corrigida para: predicado: considerava aquela gente simpática; compl. direto: aquela gente.

O sistema linguístico dá-nos razão pelo modo como forma a voz passiva : suj. aquele gente; predicado: era considerada simpática.

 E não esqueçamos: o atributo que vem depois dum verbo copulativo é o elemento central do predicado (Gramática, p 5)

quarta-feira, 24 de julho de 2024

 

Verbos copulativos - Verbos atributivos -

 Predicados complexos

Copulativos não são só os tradicionais verbos ser, estar e parecer, que são sempre, e só, copulativos (copulativos estremes);são-no, também, muitos outros, os semicopulativos, como achar, andar, chamar, considerar, deixar, pôr, etc… que tratamos e demonstramos com muitos exemplos a partir da p. 9. 

Mas não deixemos de dar já uma olhadela

Os verbos semicopulativos têm este nome porque apresentam duas possibilidades: a de serem verbos plenos ou de serem copulativos.

Prestemos atenção ao verbo achar, verbo PLENO, na frase seguinte:

1. Quando fazia um cruzeiro Judite achava sempre maneira de se ocupar das crianças (Agustina Bessa-Luís, A Ronda da Noite, p. 81)

Oração composta

Suj.: Judite; predicado: achava sempre maneira de se ocupar das crianças; compl. direto: maneira de se ocupar das crianças; compl nominal preposicionado: de se ocupar das crianças; adjunto adverbial de tempo: quando fazia um cruzeiro.

- de se ocupar das crianças

Proposição subordinada, infinitiva, completiva

Suj.: ela (Judite); predicado: ocupar-se das crianças; compl. verbal preposicionado: das crianças - [ocupar-se: este se  é pronome pessoal inerente ao verbo, que é pronominal. A sua função sintática está integrada no predicado, é, por natureza, inerente ao predicado)

 

- quando fazia um cruzeiro

Proposição subordinada adverbial, relativa livre

Suj.: ela (Judite); predicado: fazia um cruzeiro; compl. direto: um cruzeiro.

O verbo achar é, nesta oração composta, verbo pleno. O seu significado apresenta o seu sentido próprio (encontrar qualquer coisa inesperada ou perdida)

Vejamos agora o mesmo verbo achar na frase seguinte:  Maria Rosa achava o Nabasco doido (idem, p.71)

Oração simples

Suj.: Maria Rosa; predicado: achava o Nabasco doido; compl direto: o Nabasco

O mesmo verbo achar tomou nesta frase o sentido de considerar, tomar por - considerou doido, tomou por doido…

O verbo achar ligou-se (copulou-se) ao adjetivo doido que atribuiu ao Nabasco, e formou um predicado complexo: achou doido. O adjetivo doido  entrou no predicado - Maria Rosa não encontrou Nabasco; estava junto dele, mas achou-o doido, teve-o como doido, considerou-o doido. O adjetivo doido entrou no predicado; não é predicativo.

 

Se consultarmos um bom Dicionário, (o da Academia das Ciências, por exemplo) na entrada do ACHAR, deparamos com duas partes bem demarcadas: I- Usa-se como verbo pleno… e, mais abaixo: II - usa-se associado a outra predicação

Os verbos  acharconsiderar, deixar, reputarter na conta deter por, ou equivalentes são atributivos e formam predicados complexos. 

A forma passiva mostra que o adjetivo doido é parte do sintagma verbal, assim: o Nabasco foi achado doido por Maria Rosa - como,  na forma ativa, doido é parte do predicado - e não predicativo do compl. direto.

Na nossa  gramática, a partir da p. 9, apresentamos muitas orações em que veremos claramente este tipo de  construções sintáticas.

3. D. Rita achou provável a suspeita do servo (Gramática, Oração 8, p. 12) 

Suj.: D. Rita; predicado: achou provável a suspeita do servo; compl direto: a suspeita do servo.

A análise que considerasse o adjetivo provável como predicativo do complemento direto estaria errada - porque o adjetivo provável integra o sintagma verbal.

sábado, 13 de julho de 2024

 

Verbos copulativos ou atributivos

1. O Dicionário da Academia das Ciências, e muitas gramáticas, definem assim os verbos copulativos: os que, numa oração estabelecem a ligação entre o nome predicativo do sujeito e o sujeito. Mas a existência de orações copulativas sem sujeito é prova de que esta definição está errada.

2. Deparámos muito recentemente, numa Gramática de credibilidade firmada, com uma oração assim: Hoje está um dia de calor. E a análise sintática que propõe é esta:  sujeito não tem; predicado: está um dia de calor; *predicativo do sujeito: um dia de calor.

Como é que UMA ORAÇÃO SEM SUJEITO  poderia ter predicativo do sujeito? Mais ainda: mesmo que a frase tivesse sujeito, nunca qualquer verbo atributivo (ser, estar, parecer e outros) aceitaria predicativos do sujeito.

3. Também no Dicionário da Academia das Ciências se afirma que na frase «A criança está contente», «contente» exerce a função de nome predicativo do sujeito. Mas não.  Os verbos atributivos (como ser, estar, parecer e outros) atribuem ao sujeito qualidades de que eles, verbos atributivos, são apenas portadores. Daí o nome de atributivos. Os verbos atributivos são veículos de predicados.

Nas frases: tu és parvo; tu és inteligente a palavra à direita do verbo atributivo (parvo e  inteligente) é que é a parte mais importante do predicado; é a única que traz informação semântica, a única que exprime uma ideia.

Qual, então, a função dos verbos atributivos? Além de servirem de veículo ao predicado, prestam informação gramatical: pessoa, tempo, modo, aspeto…

Na frase O João está triste o verbo estar (atributivo) atribuiu ao João esse atributo (que é o predicado).

Suj.: o João; predicado: está triste

Os atributos são palavras lexicais (com significado próprio). Quando veiculadas por verbos atributivos estas palavras formam predicados; quando, opcionalmente, se juntam a um substantivo para o qualificar são predicativos do sujeito ou de qualquer complemento.

terça-feira, 2 de julho de 2024


Regresso ao Blogue 

Depois duma ausência longa, motivada por um trabalho exaustivo na elaboração duma Gramática Explicativa da Análise Sintática, é meu privilégio poder apresentar as minhas duas únicas publicações que são, de facto, testemunhos profissionais, que designei de   ACESSIBILIDADES.

Na realidade, é essa a função de qualquer professor: tornar acessível  a disciplina ou matéria que os alunos devem aprender. Por isso, o objetivo primeiro do meu trabalho sobre Os Lusíadas foi torná-los acessíveis a  todos os falantes de Língua portuguesa.  

Também a Gramática Explicativa da Análise Sintática tem a mesma finalidade: tornar acessível o sentido mais recôndito de cada frase. Por isso, propomos um novo processo de análise, bem como uma atualização de conceitos há muito ultrapassados.

Analisamos, explicamos e demonstramos mais de 1300 orações e proposições que retirámos da Literatura em Língua portuguesa. Por aqui vão passando cerca de 40 Autores, com quase uma centena de obras publicadas.  

Os dois livros estão acessíveis:

Os Lusíadas, em:

https://play.google.com/store/books/details/Virg%C3%ADlio_C_Dias_Os_Lus%C3%ADadas?id=Z0gAEAAAQBAJ

A Gramática Explicativa da Análise Sintática em:

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