segunda-feira, 21 de outubro de 2024

 


 O Ciberdúvidas anda distraído da Sintaxe

1. Acabo de ser agradavelmente surpreendido com a decisão de o  Ciberdúvidas ir às escolas levar apoio à formação gramatical dos nossos alunos. Isso é ótimo. Deveria, no entanto,  ter em atenção o tipo de Sintaxe que lhes irá apresentar, porque a Sintaxe dos verbos copulativos explicada aos alunos de Nelas  não é própria deste tempo. A Gramática que lá ouvi  está fora de prazo – dum prazo já muito distante, ainda no século XX.

 

2. Apresento uma oração copulativa simples, assim: hoje está frio.  

Análise: 

Oração simples 

Suj.: não tem (oração impessoal); predicado: está frio; adjunto adverbial de tempo: hoje.

Nesta oração copulativa não se «liga» o sujeito (não o há!)  ao predicado; também não há cópula do verbo com um sujeito que não existe;  não pode ter predicativo do sujeito (porque, não havendo sujeito, não pode haver predicativo dele) - mas é uma oração copulativa! Embora minúscula, esta oração copulativa demonstra como a definição do Ciberdúvidas anda distante da Sintaxe atual.

3. Nos verbos copulativos e atributivos a cópula acontece na união do verbo com o atributo – e  essa união é que forma o predicado. Os verbos copulativos nada têm a ver com predicativos do sujeito.

4. Era meu dever dizer isto, porque poderia alguém, ao ouvir o Ciberdúvidas, pensar (e acreditar) que a Gramática da Analise Sintática que eu publiquei está errada. Mas não; nem fui eu que a inventei: ela resulta do estudo feito em  Academias da Língua; eu apenas assimilei suas ideias e as apliquei na análise de textos de grandes Autores em de Língua portuguesa: Agustina, Aquilino, Camilo, Eça, etc… São mais de 40 autores, e mais de 1300 orações e proposições.

5. Propus à Academia das Ciências a discussão e certificação desta Gramática Explicativa da Análise Sintática, mas nem resposta me deram. Insisti – e o resultado foi o mesmo. Com uma Academia assim, a Sintaxe da Língua portuguesa continuará obsoleta.

Nota: Os verbos copulativos estão na  minha Gramática, nas páginas 5 a 8 - e o acesso a elas está aberto, sem qualquer custo:  https://bit.ly/3Wtcqmu

2. Este texto, além do Facebook está publicado no blogue cibersintaxe.blogspot.com  onde tem uma apresentação mais explícita e onde é fácil comentar.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

 

Em Sintaxe só inventa quem desconhece o que de há muito é de todos conhecido.

Recentemente, deparei com uma análise sintática inexplicável, em Gramática, publicada  em março de 2023. O autor faz a análise da frase: «O João saiu de carro para a cidade»
Supondo conhecidos o sujeito e o predicado, ele faz a análise dos constituintes preposicionados, assim:
«de carro» desempenha a função sintática de modificador do grupo verbal   
«para a cidade» desempenha a função de complemento oblíquo.

Não é aceitável que um professor proponha tais disparates a Colegas ou a alunos. A frase «O João saiu de carro para a cidade» deve ser ensinada (analisada) em dois momentos:

1. O raciocínio:

A frase fala do João - e diz que ele (João) saiu para a cidade [foi o lugar para onde ele saiu]. Logo: O João é sujeito; o predicado é: saiu para a cidade.

a frase diz-nos ainda que saiu de carro.
de carro é o modo como o João saiu da cidade – ou melhor: foi o meio ou instrumento de que o João se serviu para sair para a cidade.

2. A análise:

O João : sujeito
saiu para a cidade:  predicado.
- para a cidade: complemento de lugar para onde     
de carro:  adjunto adverbial de meio ou instrumento  (podia ter saído de bicicleta, de comboio…)

 Colegas professores de Língua portuguesa, a análise sintática é uma tarefa fundamental no ensino da Língua e, sobretudo, o meio mais eficiente para os nossos alunos aprenderem a estudar.

 Deixem os modificadores, porque, em sintaxe, tal designação  não existe, nem ajudaria a entender nada.

Nesta frase, de carro indica o modo como o João saiu, ou o meio de que João se serviu.  Classificar de carro como modificador do grupo verbal, é um disparate sem qualquer sentido; nem existe em Sintaxe.

-  classificar para a cidade como complemento oblíquo ajudará mais o aluno a descobrir o sentido do que  dizendo-lhe que é complemento de lugar para onde? – Claro que não; nem existe tal complemento em Sintaxe.

Na análise sintática não existem, nem nunca existiram essas aberrações de complemento oblíquo ou de modificador do grupo verbal. A análise sintática tem como objetivo a descoberta e revelação do sentido da frase. Em Sintaxe, procuramos o sentido da frase: quem...? o quê?... como?.... onde?... donde?... para onde? porquê?....de que modo?  com que meio ou instrumento?....a causa... a finalidade... em que tempo...etc....

Só inventa quem desconhece o que de há muito é de todos conhecido.

 

sábado, 5 de outubro de 2024

 

A frase é uma sequência de unidades de sentido
 
Eu peço desculpa por vir para o Facebook fazer análise sintática. Mas este é um serviço que tem de ser feito; a sintaxe é a base do estudo da Língua e condição fundamental para os alunos todos  aprenderem a estudar. Eles precisam urgentemente de olhar para uma frase e de tentar descobrir nela o seu sentido – mas ninguém se importa com eles. Alertei quem me parecia responsável; ofereci-me para discutir esta matéria: ninguém responde; o desinteresse é total. Que pena!

Hoje, dia mundial do professor,  e também título deste blogue desde 2012, a análise incide sobre uma frase de J. Cardoso Pires, que retirei do seu romance O Delfim,  publicado em 1968. É tido como a sua obra prima

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Vi-o tratar do carro do Engenheiro, o rosto magro e o nariz sensível comandavam a certeza dos movimentos, enquanto a mão agia solta, como se pensasse. (J. Cardos Pires, O Delfim, p. 270)
O Narrador refere-se a um operário, o Domingos, que tratava habilmente do carro do Engenheiro)
 
Vi-o tratar do carro do Engenheiro
Oração composta
Suj.: eu (implícito na 1.ª pessoa do verbo VER: eu vi…  vi o quê?: - complemento direto: -o tratar do carro do Engenheiro

- o tratar = o Domingos tratar…;  -o é um pronome que é sujeito de tratar. As orações no infinito, em português, são como em Latim: têm o sujeito em acusativo (pronome sob aforma de complemento).

-o tratar do carro do Engenheiro
Proposição (subordinada) infinitiva, substantiva
Suj.: -o (referente: Domingos); predicado: tratar do carro do engenheiro; complemento direto preposicionado: do carro do Engenheiro; compl. nominal de posso: do Engenheiro. 

Esta oração infinitiva e substantiva foi complemento direto na oração composta. Na sua análise ela se tornou proposição. (oração, dentro de oraçã0, é proposição)

- o rosto magro  e o nariz sensível comandavam a certeza dos movimentos, enquanto a mão agia solta, como se pensasse.
Oração coordenada por aposição
Suj.: o rosto magro e o nariz sensível; predicado: comandavam a certeza dos movimentos; compl dir.: a certeza dos movimentos;  adj. adverb. de tempo: enquanto a mão agia solta...
 
- enquanto a mão agia solta como se pensasse
Proposição (subordinada) adverbial temporal
Suj.: a mão; predicado: agia; predicativo do sujeito:  solta, adjunto adverbial de modo: como se pensasse.
 
- como se pensasse
Proposição subordinada adverbial, relativa livre
Suj.: ela (a mão); predicado: pensasse.

Forma passiva: Vi ser tratado por ele o carro do Engenheiro.  
O suj. da voz ativa é, na forma passiva, agente da passiva .

 Ainda alguém terá dúvidas de que o -o, de Vi-o é sujeito da proposção infinitiva?