terça-feira, 21 de janeiro de 2025

 

O Ciberdúvidas foi à Escola
e respondeu a uma aluna de Timor com a análise seguinte:
Frase:

O João ficou em Timor

Análise sintática do Ciberdúvidas:

Suj.: O João; predicado: ficou; predicativo do sujeito: em Timor.

  

Esta análise está errada. O Ciberdúvidas anda tão longe da Sintaxe!- e tem-na tão perto!

_________

O VERBO FICAR apresenta dois valores semânticos totalmente diferentes. Logo, não pode ter um só modo de análise sintática.

 Se alguém fica num local, o verbo é pleno, e o seu significado é continuar a estar, não se ir embora, permanecer – antónimo de sair de (cfr. Dic. Academia) – e, logicamente, exprime um lugar:  fica ali, fica lá, permanece lá: seleciona, pois, um complemento adverbial de lugar onde – e a análise sintática é:

 

O João ficou em Timor

Suj.: o João; predicado: ficou em Timor; compl. adverbial de lugar onde: em Timor.

Mas:  se alguém ficar doente, o verbo não é pleno – (não fica em lado nenhum) mas: põe-se doente, passa a estar doente, adoece. Vejam que nem precisaríamos do verbo ficar para exprimir essa ideia.

O João ficou doente

Suj.: o João; predicado: ficou doente [adoeceu].

O João não ficou em parte nenhuma, mas passou a estar doente, adoeceu. O VERBO FICAR, como outros, foi portador dum atributo que é o núcleo semântico do predicado.

 

Se abrirem a Gramática Explicativa na amostra (é amostra, não se paga nada), vão à p.10, frase 4 (ficar – e à frase 5: deixar); e também a  p. 11, frase 6 (cair); p.12, f.8 (achar-se) e  frase 9 (ver-se)… Todos estes verbos são semicopulativos, atributivos.

 

Nesta sequência de frases que refiro estão demonstrados os verbos semicopulativos (não plenos) – e continuam a ser explicados, caso a caso, sempre que vão aparecendo no milhar de orações analisadas…

 

O Ciberdúvidas poderia, e deveria, ser o meio mais poderoso da divulgação da Sintaxe atual, mas não quer, e continua a fazer a análise sintática mais velha do mundo. É uma pena.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

 

 Fui hoje apanhado de chofre 

Um consulente pede ajuda para a análise sintática da frase seguinte:

O objetivo da Fundação era que as pessoas se juntassem.

E a análise que o Ciberdúvidas lhe propôs foi:

O objetivo da Fundação era
Oração principal - [Principal? - nem oração é!]
 
que as pessoas se juntassem
Oração subordinada substantiva predicativa (?)

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 1. A análise sintática pressupõe o conhecimento do que é uma oração.

Ora, a oração dada como principal (o objetivo da Fundação era) não faz qualquer sentido; não pode ser uma oração.
2. A unidade de sentido, nesta frase, implica a presença de dois verbos conjugados era e juntassem.
3. É, por isso, UMA oração composta.
4. Uma unidade de sentido que desempenhar função sintática numa oração composta toma o nome de proposição

Por isso, a análise sintática da frase é:

O objetivo da Fundação era que as pessoas se juntassem

Oração composta
Suj.: o objetivo da Fundação; predicado: era que as pessoas se juntassem 

que as pessoas se juntassem
Proposição (subordinada) integrante, substantiva
Suj.: as pessoas; predicado: se juntassem
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Nota complementar

A análise sintática está num estado deplorável nas nossas Escolas - como se conclui pela frase que hoje analisamos, e por centenas de outras que poderíamos apresentar.
Admito que tanto a Academia das Ciências como o Ministério da Educação pensem que a SINTAXE será um ramo secundário no ensino da Língua portuguesa. Mas não. A Sintaxe é o ramo da Linguística que tem como objetivo a descoberta e revelação do sentido da frase – e é, a par da matemática, a disciplina que mais contribui para que os alunos aprendam a compreender um texto e a estudar por si próprios. A iliteracia tem  a sua origem principal na ignorância da SINTAXE.

 A Gramática Explicativa da Análise Sintática, disponível no Google Play,  é o único manual que, sobre textos da Literatura em Língua portuguesa, analisa e explica mais de mil  orações sintáticas. 

A Gramática está disponível em https://bit.ly/3Wtcqmu

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

 

 A Língua portuguesa é só uma

Peguei há dias numa gramática brasileira, e gostei. Fernando Pestana, seu Autor, expõe conceitos gramaticais de modo agradável. Trata-se de um Autor que, recentemente, vai aparecendo no Ciberdúvidas.
Mas Fernando Pestana apresenta ideias opostas às minhas, e não por convicção sua, mas por imposição da  (ABL) Academia Brasileira de Letras.  Cito palavras dessa sua Gramática: 
 
“3) Em orações sem sujeito, com o verbo ser, existe predicativo do sujeito!  - [e  ele próprio comenta:  e isso é estranho demais] - no entanto é assim que manda a tradição gramatical, e a gente, que não é bobo nem nada, lhe obedece.  
 
Colega, não posso concordar consigo; nem uma Gramática de obediências pode merecer qualquer crédito. E a prova vem logo a seguir. Depois da afirmação anterior, em que obedece à ABL, logo faz a afirmação doutro erro, em nada menos grave:  
 
que «os predicativos do objeto direto com os verbos transobjetivos julgar, chamar, nomear, eleger, proclamar, designar, considerar, declarar, adotar, tornar, encontrar, deixar, achar..., indicam opinião ou designação e normalmente exigem um objeto seguido de um predicativo do objeto» 
 
Ora isto não é verdade. Os 13 verbos da lista proposta (julgar, chamar….achar)  não são transobjetivos, e  não selecionam complemento indireto. São verbos semicopulativos que, quando não PLENOS, veiculam atributos que fazem parte do SV (são predicado). 
 
Exemplo;
Salomé é tão rápida e eficiente que lhe chamam Bosch (Lídia Jorge, Misericórdia, O Turno, 3)
Oração composta
Suj.: Salomé; predicado: é tão rápida e eficiente que …
 
- que lhe chamam Bosch
Proposição subordinada adverbial, consecutiva
Suj.: indeterminado (eles, as pessoas, 3.ª pessoa plural); predicado: lhe chamam Bosch; complemento direto: -lhe.
Bastaria pôr esta frase na voz passiva, e logo a Língua portuguesa mostraria o erro que não será só da ABL, mas até de Bechara,  Gramática, edição 37, pág. 522):
 
Salomé é tão rápida e eficiente que (ela) é chamada Bosch por eles.
[O sujeito da voz passiva (ela) é complemento direto na voz ativa - onde tinha a forma de complemento lhe].
 

A Gramática Explicativa da Análise Sintática analisa e explica estes e muitos outros casos;  
terá, muito provavelmente, alguns erros, que irei debelando –  mas  deveria ser tida em conta
pelaAcademia das Ciências e pelo Ministério da Educação.