A caminho da Literacia
Os Apostos I
O Capítulo IV do Romance OS POBRES, de Raul Brandão, tem o título de O GABIRU – e começa assim:
No último andar do prédio mora o Gabiru, um solitário filósofo, esguio e triste como um enterro.
Oração simples
Antes da análise, devemos descobrir o sentido essencial da frase - e descobriremos que o seu tema ou assunto é o Gabiru.Dele se diz (se predica) onde mora (no último andar do prédio).
Sujeito: O Gabiru; predicado: mora no último andar do prédio. Mas...
1. Mas, mesmo ao lado do sujeito (o Gabiru) está outro sintagma nominal (um solitário filósofo). Estes dois sintagmas nominais, postos um ao lado do outro, equivalem-se de tal modo que até poderiam permutar a sua posição, assim: No último andar do prédio mora um solitário filósofo, o Gabiru, esguio…
Assim colocados lado a lado, e com significado equivalente, os sintgmas nominais tomam o nome de APOSTOS (apor-se: colocar-se ao lado)
…esguio e triste: são dois adjetivos que nos dão informação (isto é, predicam), sobre o Gabiru. A informação principal foi dada pelo predicado: ele mora no último andar do prédio; os predicativos são informação além da do predicado: são predicados secundários.
…como um enterro: quando a conjunção como introduz um sintagma nominal sem predicado, não há oração, mas adjunto adverbial de comparação.
2. Análise sintática da oração simples:
Suj.: o Gabiru, um solitário filósofo; aposto (explicativo): um solitário filósofo; predicado: mora no último andar do prédio; complemento adverbial de lugar onde: no último andar do prédio; predicativos do sujeito: esguio e triste; adjunto adverbial de comparação: como um enterro.
3. Os apostos são sintagmas nominais que se usam essencialmente com função explicativa dum outro sintagma nominal que os preceda – e de tal modo se equivalem que podem permutar a sua posição na frase, assim: um solitário filósofo, o Gabiru, ou o Gabiru, um solitário filósofo. Mas há outro tipos de aposto - como veremos mais abaixo, em 4.
Notemos ainda: os apostos não são modificadores restritivos como por aí se diz. O aposto é sempre um nome ou sintagma nominal equivalente a SN outro que o precede (apor-se: colocar-se ao lado). O nome aposto não modifica o nome que o precede, mas explica-o; não lhe altera o sentido, não é modificador restritivo.
4. São tambem apostos os nomes de rios (o rio Tejo – o Tejo é um rio) e de ruas (Avenida Ramalho Eanes) – mesmo quando ligados por preposição: Avenida de Espanha, Avenida das Forças Armadas… Largo Camões ou Largo de Camões; concelho do Fundão (o Fundão é um concelho); distrito de Castelo Branco; o autor, Aquilino Ribeiro; o vício da droga (a droga é um vício) etc…
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Seguiremos com este tema dos APOSTOS.
Notaremos ainda que os temas de sintaxe que tratamos neste blogue estão todos mais completos, mas menos explicados, na Gramática, em https://bit.ly/3Wtcqmu
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