Redação
Uma
senhora pediu-me
um poema de amor.
um poema de amor.
Não
de amor por ela,
mas «de amor, de amor».
mas «de amor, de amor».
À parte
aquelas
trivialidades «minha rosa, lua do meu céu interior»
trivialidades «minha rosa, lua do meu céu interior»
que podia
eu dizer
para ela, a não destinatária,
que não fosse por ela?
para ela, a não destinatária,
que não fosse por ela?
Sem
objecto, o poema
é uma redação
é uma redação
dos 100
Modelos
de Cartas de Amor.
de Cartas de Amor.
Alexandre
O'Neill
Notemos o título deste Poema: um título aparentemente
remático. Dá a impressão de que O'Neill vai fazer uma redacção sobre um assunto
qualquer. Mas não!
O Poema vai demonstrar que qualquer tentativa de poema de
amor, sem ter como objecto o ser amado, seria mera redacção.
Este título é, pois, temático, ao contrário do que
aparenta.
Mas vamos mais fundo - e analisemos o poema com alguma
minúcia.
À maneira de desabafo, o sujeito poético conta uma
situação: uma senhora pediu-lhe um poema de amor. E esta é a proposição, ou apresentação do tema,
como já muitas vezes temos dito.
Mas há uma condição, um obstáculo, ou um nó: a senhora pôs como condição que o amor não seria por ela, mas um poema de
amor sem destinatária.
Como vai O'Neill desenvolver este tema?
Dizendo, muito simplesmente, que não é possível atender tal pedido.
É que - e é esta a conclusão
- sem objecto, o poema seria mera redacção.
Então… a Poesia
tem um objecto?
É evidente que sim.
Já defenderam alguns - e esta foi a já velha posição de
Sartre em Qu'est-ce que la littérature?
- que a Poesia não é para significar coisa nenhuma. E colocam-na a par da
música ou da pintura abstracta. As palavras na poesia seriam como as cores na
pintura ou os sons na música...
Mas… perguntamos nós: então os sons ou as cores podem
não querer dizer algo? Tanto fará, numa música, um som harmonioso como uma
confusão de sons violentos?
E num quadro de pintura abstracta será indiferente a
tonalidade escolhida pelo pintor?
É evidente que tanto a música como a pintura têm objecto na medida em que implicam sempre uma
selecção de sons ou de cores - e, por isso, são expressão de algo. Porém na
poesia, porque é arte da palavra, e esta é indissociável duma ideia, o
compromisso com um objecto é ainda muito mais evidente.
Não é possível poesia sem palavras; e também não são
possíveis palavras sem ideias.
Ao acontecer, a Poesia exprime sempre algo. Se o poeta
tem um objecto, pode acontecer Poesia; se o não tem, o poeta cala-se, ou
deveria calar-se. Poesia sem objecto, não, não a há.
O´Neill teve razão: sem destinatário não é possível um
poema de amor....
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