Faz hoje 522 anos
Lisboa
(Restelo) 8 de julho de 1497
«Em nome de Deus, Amem. Na era de
mill CCCCLXLVII mandou ell Rey Dom Manuell, o primeiro deste nome em Portugall,
a descobrir, quatro navios, os quaees hiam em busca da especiaria, dos quaees
navios hia por capitam moor Vasco da Gama e dos outros d'uum delles Paullo da
Gama seu irmãoo, e d'outro Nicollao Coelho.
Partimos de Restello huum sábado,
que eram oyto dias do mês de julho da dita era de 1497, noso
caminho, que Deus noso senhor leixe acabar em seu serviço, Amem». (Álvaro
Velho: ROTEIRO DA VIAGEM de VASCO DA GAMA, correcta e …por A. Herculano e o Barão
do Castelo de Paiva)
A frota que daqui partiu levaria entre 148 e 166, ou mesmo
170 homens. Os números variam entre os historiadores. João de Barros, na Dec.
I, Livro v, cap. I, p.195, diz que eram “três
navios com obra de cento e setenta homens”.
Os navios eram quatro: o de Vasco da Gama (a nau S. Gabriel)
o de Paulo da Gama (a nau S. Rafael) o de Nicolau Coelho (uma caravela
adquirida em segunda mão: a S. Miguel, mais conhecida por Bérrio, que era o
nome do seu antigo dono). Havia um quarto navio, para uso temporário, comandado
por Gonçalo Nunes: era a despensa.
A armada era chefiada por Vasco da Gama, que também
comandava a nau S. Gabriel, pilotada pelo mais experiente piloto português da
época, Pero de Alenquer, que, dez anos antes, conduzira Bartolomeu Dias até ao
rio do Infante - muito para lá do cabo da Boa-Esperança.
--------------------------------
A
partida, como Luís de Camões a sente,
em Lusíadas, Canto V - estrofe 3:
«Já a vista, pouco e
pouco, se desterra
Daqueles pátrios
montes que ficavam;
Ficava o caro Tejo e a
fresca serra
De Sintra, e nela os
olhos se alongavam;
Ficava-nos também na
amada terra
O coração que as
mágoas lá deixavam;
E, já depois que toda
se escondeu,
Não vimos mais, enfim,
que mar e céu.
Esta é uma das mais belas
estrofes dos Lusíadas. Notemos a musicalidade (assonância) das vogais abertas
(é e á), amplas, a darem a ideia de espaços muito vastos. Deixemo-nos
impressionar pela enumeração das coisas que ficavam: os pátrios
montes, o caro Tejo, a fresca serra de Sintra, a amada terra, o coração. O
olhar dos navegantes teima em agarrar-se, em
ficar (verbo repetido nos versos 2, 3 e 5). Finalmente, os versos 7 e 8 deixam
a armada sobre o mar vááásto,
sem quaisquer pontos de referência: não
vimos mais, enfim, que mar e céu…
Esta é uma daquelas estrofes que
se lêem uma vez, outra vez …e ainda mais uma vez.
Sem comentários:
Enviar um comentário