segunda-feira, 8 de julho de 2019




Faz hoje 522 anos

Lisboa (Restelo) 8 de julho de 1497


«Em nome de Deus, Amem. Na era de mill CCCCLXLVII mandou ell Rey Dom Manuell, o primeiro deste nome em Portugall, a descobrir, quatro navios, os quaees hiam em busca da especiaria, dos quaees navios hia por capitam moor Vasco da Gama e dos outros d'uum delles Paullo da Gama seu irmãoo, e d'outro Nicollao Coelho.
Partimos de Restello huum sábado, que eram oyto dias do mês de julho da dita era de 1497, noso caminho, que Deus noso senhor leixe acabar em seu serviço, Amem». (Álvaro Velho: ROTEIRO DA VIAGEM de VASCO DA GAMA, correcta e …por A. Herculano e o Barão do Castelo de Paiva)

A frota que daqui partiu levaria entre 148 e 166, ou mesmo 170 homens. Os números variam entre os historiadores. João de Barros, na Dec. I, Livro v, cap. I, p.195, diz que eram “três navios com obra de cento e setenta homens”.    
Os navios eram quatro: o de Vasco da Gama (a nau S. Gabriel) o de Paulo da Gama (a nau S. Rafael) o de Nicolau Coelho (uma caravela adquirida em segunda mão: a S. Miguel, mais conhecida por Bérrio, que era o nome do seu antigo dono). Havia um quarto navio, para uso temporário, comandado por Gonçalo Nunes: era a despensa.
A armada era chefiada por Vasco da Gama, que também comandava a nau S. Gabriel, pilotada pelo mais experiente piloto português da época, Pero de Alenquer, que, dez anos antes, conduzira Bartolomeu Dias até ao rio do Infante - muito para lá do cabo da Boa-Esperança.
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A partida, como Luís de Camões a sente, em Lusíadas, Canto V - estrofe 3:

«Já a vista, pouco e pouco, se desterra
Daqueles pátrios montes que ficavam;
Ficava o caro Tejo e a fresca serra
De Sintra, e nela os olhos se alongavam;
Ficava-nos também na amada terra
O coração que as mágoas lá deixavam;
E, já depois que toda se escondeu,
Não vimos mais, enfim, que mar e céu.

Esta é uma das mais belas estrofes dos Lusíadas. Notemos a musicalidade (assonância) das vogais abertas (é e á), amplas, a darem a ideia de espaços muito vastos. Deixemo-nos impressionar pela enumeração das coisas que ficavam: os pátrios montes, o caro Tejo, a fresca serra de Sintra, a amada terra, o coração. O olhar dos navegantes teima em agarrar-se, em ficar (verbo repetido nos versos 2, 3 e 5). Finalmente, os versos 7 e 8 deixam a armada sobre o mar vááásto, sem quaisquer pontos de referência: não vimos mais, enfim, que mar e céu…
Esta é uma daquelas estrofes que se lêem uma vez, outra vez …e ainda mais uma vez.



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